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domingo, outubro 30, 2011

Samurai e seu Valor

Olá. Quem acompanha o MB sabe que AMO ler e que aprecio muito a cultura oriental, principalmente a nipônica. Então, estava lendo o belo livro “Os Japoneses” de Célia Sakurai e muitos pontos chamaram minha atenção, mas hoje postarei sobre um dos que achei mais interessante.

Nesses tempos de tanta corrupção, violência sem sentido e falta de valores que muitos de nós temos como base de nossa conduta, acho de extrema valia mencionar a ética dos samurais. Eles, um dos grandes ícones do Japão que tem sua figura na base da identidade japonesa, afinal quem é que não conhece a figura desse guerreiro, seja por animes, mangás, filmes (O Último Samurai com Tom Cruise e o maravilhoso Ken Watanabe), enfim…

A figura do samurai tornou-se referência da identidade do Japão em muitos momentos da história desde o século XIX, principalmente a partir da segunda metade desse século, pois foi o momento em que o Japão se abria ao contato com o Ocidente.

Samurai Japonês na sua armadura, 1860s. fotografia de Felice Beato

A figura do samurai refletia a imagem/identidade que os governantes da época queriam transmitir e que era reconhecida pelo povo, vale ressaltar que esse seria o samurai ideal aos governantes, pois na verdade, estavam orquestrando o fim da figura do samurai concreto, e esse samurai ideal representava as necessidades do momento.

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O samurai representava ao povo a ideia que um indivíduo membro de uma equipe unida e coesa, pode se destacar por sua coragem e lealdade, dessa forma os governantes objetivavam mostrar que qualquer um poderia ser um “samurai”.

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Com a nova legislação (a partir de 1871) a figura concreta do samurai deixa de existir, e não se vê mais a figura do homem que anda com suas espadas à vista, mas sua presença heroica serve agora à pátria japonesa. As elites japonesas conseguiram manipular os elementos de acordo com seus interesses, agregando aspectos de modernidade, mas evitando que os valores japoneses tradicionais se perdessem totalmente à onda da ocidentalização.

Algumas das artes marciais se baseiam no espírito samurai (do = “caminho”) como o Judo, Kendo e Aikido (respectivamente “caminho suave”, “caminho da espada” e “ caminho da energia vital”). Esses esportes tiveram suas regras estabelecidas na década de 20 para orientação dos jovens sobre “o caminho” e a disciplina, lembrando que essas artes marciais complementavam as aulas de Moral e Cívica nas escolas.

Na época da Segunda Guerra os valores do samurai ideal foram novamente manifestados, sendo os Kamikazes a maior expressão da ética de Bushido, mas foi um momento de dúvida para os jovens pois foram ensinados que o guerreiro deve lutar até o fim, que a rendição seria vergonhosa e que o suicídio era o ato mais honroso.

Devido ao dilema que se criou com essa questão, o próprio imperador teve que se manifestar para o povo e declarar a derrota para evitar suicídios em massa.

Dica: Isso fica bem claro no filme Cartas de Iwo Jima (novamente com o lindo Ken Watanabe), lembro que assisti com meu marido e a cena de suicídio foi algo bem chocante para mim, pois esse conceito de suicídio e honra ainda me era estranho, mas após a leitura do livro “Os Japoneses”, entendi o sentido para eles.

Esse espírito guerreiro se manifestou nos jovens japoneses em todo o mundo, os imigrantes do Brasil se alistaram como voluntários no exército japonês (a partir da metade da década de 30), mas aqui no Brasil alguns japoneses que permaneceram e que ficaram inconformados com as notícias de derrota do Japão tomaram parte do movimento denominado Shindo Remmei pautando-se em valores samurais, mas utilizando de extrema violência contra os japoneses que acreditavam na derrota japonesa.

O desfecho da Segunda Guerra Mundial eliminou o lado bélico e agressivo do conceito de samurai, mas sua essência foi reciclada e utilizada na reconstrução do Japão, nas empresas japonesas, escolas, brincadeiras infantis, artes marciais, esportes e cultura pop (filmes, mangás como Vagabond – clássico que eu adorei até onde li –, desenhos, como Samurai X, entre outros).

Lábios vermelhos

* Foto tirada no Pavilhão Japonês, Ibirapuera/SP.

Fonte: Os Japoneses, Célia Sakurai, Ed. Contexto.

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